A CONFIGURAÇÃO DE FORÇAS NA CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO COMO ESTRATÉGIA DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL: PROBLEMATIZAÇÕES FOUCAULTIANAS

Autores

  • Eneida Silveira Santiago Universidade Estadual de Londrina - UEL
  • Silvio Yasui Unesp - Assis

Palavras-chave:

Saúde Mental, Saúde Coletiva, Genealogia, Trabalho, Subjetividade, Intersetorialidade

Resumo

Investigamos neste texto, a partir das contribuições foucaultianas para a genealogia do saber, a constituição histórica da articulação entre atividades de Trabalho e Atenção em Saúde Mental (chamadas de Oficinas Terapêuticas, entre outros nomes) em seus diversos propósitos e dimensões que contribuíram para a produção do cuidado do portador de sofrimento psíquico em diferentes momentos. A História é aqui compreendida como uma multiplicidade (e não linearidade) de tempos e séries diversas que misturam-se e embaralham-se formando discursos proferidos como verdades. Na articulação que aqui discutimos, concluímos que o Trabalho como modalidade terapêutica nas instituições asilares, não surgiu no universo da psiquiatria, mas do capitalismo. Associado às medidas de ocupação de “mentes vazias” dos desajustados, mais tarde ganhou a posição de instrumento de disciplina e normatização social. Com a Reforma Psiquiátrica, as atividades de Trabalho na Saúde Mental foram re-inventadas como espaços possibilitadores de acesso à cidadania e contratualidade social dos usuários da rede.

Referências

AMARANTE, P. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. Rio de Janeiro: Panorama/ENSP, 2000.

AMARANTE, P. Loucura, cultura e subjetividade: conceitos e estratégias, percursos e atores da reforma psiquiátrica brasileira. In: FLEURY, S. (Org.). Saúde e democracia: a luta do CEBES. São Paulo: Lemos Editorial, 1997.

AMARANTE, P. Saúde mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2007.

ANTUNES, R. Adeus ao trabalho?:ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez; Campinas: Unicamp, 2010.

BORGES NETO, J.L. Foucault genealógico: considerações de método para a possibilidade de uma análise do poder. Inquietude, v.3, n.2, p.287-299, 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental: 15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Legislação em saúde mental: 1990-2002. Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

CASTEL, R. A ordem psiquiátrica: a idade de ouro do alienismo. Rio de Janeiro: Graal, 1991.

CODO, W.; JACQUES, M.G. Saúde mental &trabalho:leituras. Petrópolis: Vozes, 2002.

CODO, W.; TAMAYO, A.; BORGES-ANDRADE, J.E. (Orgs.) Trabalho, organizações e cultura. São Paulo: Autores Associados, 1997.

COSTA-ROSA, A. O modo psicossocial: um paradigma das práticas substitutivas ao modo asilar. In: AMARANTE, P. Ensaios: subjetividade, saúde mental e sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000.

CUNHA, M.C.P. Loucura, gênero feminino: as mulheres do Juquery na São Paulo do início do século XX. Revista Brasileira de História, v.9, n.18, p.121-144, 1989.

CUNHA, M.C.P. O espelho do mundo: Juquery a história de um asilo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

DEJOURS, C. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2007.

DELGADO, P. G. G. Perspectivas da psiquiatria pós-asilar no Brasil. In: COSTA, N.R. (Org.). Cidadania e loucura: políticas de saúde mental no Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

DELGADO, P.; LEAL, E.; VENÂNCIO, A. O campo da atenção psicossocial. Anais do 1º Congresso de Saúde Mental do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Te Corá, 1997.

FOUCAULT, M. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: Nau, 1996.

FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2010.

FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

FOUCAULT, M. O uso dos prazeres e as técnicas de si. In: MOTTA, M.B. (Org.). Ética, sexualidade, política. (Ditos e escritos, 5). Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004b.

FOUCAULT, M. Vigiar e punir: a história da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 2004a.

FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população. São Paulo: Martins Fontes, 2008.

FREITAS, F. F. P. Subsídios para mudanças do modelo de assistência psiquiátrica. Cadernos de Saúde Pública, v.14, n.1, p.93-106, 1998.

GUARESCHI, P.A. Pressupostos psicossociais da exclusão: competitividade e culpabilização. In: SAWAIA, B. (Org.). As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Vozes, 2006.

LAPPANN-BOTTI, N.C. Oficinas em saúde mental:histórias e função. Tese de doutorado em Enfermagem Psiquiátrica. Universidade de São Paulo: Ribeirão Preto, SP, 2004.

LIMA, E.A. Oficinas em saúde mental: percurso de uma história, fundamento de uma prática. In: COSTA, C.M.; FIGUEIREDO, A.C. (Orgs.). Oficinas terapêuticas em saúde mental: sujeito, produção e cidadania. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2004.

MACHADO, R. Ciência e saber: a trajetória da arqueologia de Michel Foucault. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

MACHADO, R. Por uma genealogia do poder. In: FOUCAULTI, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

MINISTÉRIO DA SAÚDE; REDE HUMANIZASUS. Integralidade. Glossário. Disponível em http://www.redehumanizasus.net/glossary. Acesso em 29 jun2013a.

MINISTÉRIO DA SAÚDE; REDE HUMANIZASUS. Intersetorialidade. Glossário. Disponível em http://www.redehumanizasus.net/glossary/term/121. Acesso em 10 jun 2013b.

MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE, DEPARTAMENTO DE AÇÕES PROGRAMÁTICAS E ESTRATÉGICAS. Saúde mental e economia solidária: inclusão social pelo trabalho. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2005.

MONKEN, M.; PEITER, P.; BARCELLOS, C.; ROJAS, L.I.; NAVARRO, M.B.M.A.; GONDIM, G.M.M.; GRACIE, R. O território na saúde: construindo referências para análises em saúde e ambiente. In: MIRANDA, A.C.; BARCELLOS, C.; MOREIRA, J.C.; MONKEN, M. (Orgs.). Território, ambiente e saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2008.

NARDI, H.C.; TITTONI, J.; GIANNECHINI, L.; RAMMINGER, T. Fragmentos de uma genealogia em saúde: a genealogia como ferramenta de pesquisa. Cadernos de Saúde Pública, v.21, p.4, p.1045-1054, 2005.

PRADO FILHO, K.; TRISOTTO, S. O corpo problematizado de uma perspectiva histórico-política. Maringá: Psicologia em Estudo, v.13, n.1, p.115-121, 2008.

RESENDE, H. Políticas de saúde mental no Brasil: uma visão histórica. In: TUNDIS, S.; COSTA, N. do R. (Org.). Cidadania e loucura: políticas de saúde mental no Brasil. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

SARACENO, B. Libertando identidades: da reabilitação psicossocial à cidadania possível. Belo Horizonte: Instituto Franco Basaglia/Te Corá, 1999.

SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SILVA, A.L.A. O projeto copiadora do CAPS: do trabalho de reproduzir coisas à produção de vida. Dissertação (Mestrado) Escola de Enfermagem – Universidade de São Paulo, 1997.

TÓTORA, S. Foucault: biopolítica e governamentabilidade neoliberal. REU, v.37, n.2, p.81-100, 2011.

Downloads

Publicado

18/06/2014

Como Citar

Santiago, E. S., & Yasui, S. (2014). A CONFIGURAÇÃO DE FORÇAS NA CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO COMO ESTRATÉGIA DE CUIDADO EM SAÚDE MENTAL: PROBLEMATIZAÇÕES FOUCAULTIANAS. Revista OMNIA Saúde, 10(2), 59–81. Recuperado de http://omnia.fai.com.br/omniasaude/article/view/398

Edição

Seção

Normas para Autores

Artigos Semelhantes

<< < 11 12 13 14 15 16 17 18 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.

Artigos mais lidos pelo mesmo(s) autor(es)